segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A CHAVE É A UNIÃO



Salve, salve!!! Aquele salvão pra todos os que nos acompanham durante todos esses anos e também pra quem nos conheceu durante a caminhada e pra quem está nos conhecendo agora. Estamos completando mais um aniversário, são cinco anos fanzinando pelas terras de Foz do Iguaçu. Cinco anos de existência, resistência e persistência. E com muita alegria por continuar independente, apenas com o apoio de gente que pensa igual ou parecido com a gente. Gente da gente que também sonha e luta por um mundo justo. Um grande abraço pra todos os que lêem, divulgam e escrevem para o fanzine. As edições do fanzine só vão pras ruas com a ajuda de vocês.

Nessa edição, trazemos pela primeira vez no quadro Poesias e Pensamentos, somente poetas e poetisas iguaçuenses.

Como já foi dito na edição anterior, em 2010 a caminhada continua. Poderíamos falar que com cinco anos de idade estamos apenas engatinhando, mas na verdade caminhamos a passos firmes rumo ao socialismo.

E a chave continua sendo a União!!!

10 Anos na Fita!!!

Extra, Extra!!!

Vem aí:

10 Anos na Fita!!!

A nova coletânea do Cartel do Rap.




Cartel do Rap, 10 anos na contramão da indústria fonográfica e cultural!!!

E a chave continua sendo a União!!!

Penso e logo resisto. (Por: Danilo Georges)

O meu eu tem sede de liberdade. Por isso não me prendo a opinião e notícias dos jornais da grande mídia. O Rádio e a televisão contribuem muito pouco, quase nada para minha existência. Promovendo o esquecimento dos valores mais íntimos e humanizador. Não vou me empanturrar de banalidades e de idéias sensacionalistas. Vou levantar minha alma e lutar. Sonhar, mirar um objetivo alto, mesmo que essa estrada seja longa e cheia de descaminhos é nela que vou me encontrar. A nossa ação revolucionária é poderosa, o nosso agir muda as coisas, chegou a hora do povo despertar. Nada mais vai falar pela gente. Não sentiremos mais medo um dos outros. Queremos a parte que nos cabe. Seremos de agora em diante os construtores do nosso destino. A palavra é ação. Temos a força. E lutar já virou necessidade. Vamos parar essa avalanche de consumismo que percorre essa mentalidade fútil, e frear essa má propaganda da vida.

Viver de fato é sentir e sentir é mais do que saber. Então como viveremos sem sentir? Por isso quando penso em tudo isso, penso e logo resisto.

Grafite de Woloco em Homenagem às Muitas Faces de Foz

TENHO MESMO QUE CARREGAR EM MIM A DOR DE CADA UM E NÃO PODER SENTIR A MINHA (Por: Deley de Acari)

Começo de semana foi marreta no Acari. Na verdade, ontem começou antes, à noite com o caveirão 00016 zoando a favela de noite botando velhos, crianças, mulheres, trabalhadores cansados pra dentro das casas ás escuras, sem energia, sem água, expulsando-as das calçadas, das marquises sob um mormaço de 32 graus. A marretagem pra mim continuou de manhã na visita casa á casa de sete famílias de vitimas de violência pra convidá-las pra uma reunião no próximo sábado com psicólogos e assistentes sociais. Sabia que ia ser sofrido, doído pra mim. Falar com cada uma dessas famílias e relembrar suas dores antigas, é re-sentir de novo um pouco de cada dor que senti quando a tragédia abalou cada uma dessas famílias.

Voltei pra casa levando de volta um pouco de cada dor revista, sentida como se fosse dor de agora, cheguei em casa pra chorar sozinho. Pensei que Danny, precisava de alguém que entende meu coração e minhas emoções comigo, sabia que fazer as visitas seria demais sofrido pra mim. Ter alguém especial comigo me ajudaria a segurar a barra, mas Danny não pode vir.

Me disseram que eu não preciso fazer da dor de cada família minha uma dor minha. A dor de cada família é inimaginável e só dela mesma. O máximo que faço é sentir a dor de ver e vivenciar essas pessoas sentirem suas dores e isso dói um pouco. Mas só que um pouco de cada dor dos outros que re-dói na gente vão se somando e dão numa dor tão grande e sofrida como a dar de cada um. E diante da dor de cada um, tão imensa, tão intensa, tão sofrida, sequer me é dado o direito de sentir livremente a minha própria dor. Diante da dor de tanta gente, que tenho que vivenciar como se fosse minha.

Vivo a esperança de um dia ter a felicidade de poder sofrer, viver com toda plenitude minha própria dor:

Oi minha dor, prazer te ver, saudades de você. Que alegria te sentir de novo assim tão clara, assim tão pura e verdadeira... Assim tão minha! Já tava agoniado de me perguntar, de perguntar ao mundo sem resposta: Tenho mesmo eu que carregar em mim a dor de cada um e não sentir a minha?

Deley de Acari é Poeta, treinador de escolinhas de futebol, animador cultural e militante de direitos humanos no Rio de Janeiro.

(Fonte: www.deleydeacari.blogspot.com)

Manu Chao - Clandestino

Saudade... (Por: Carol)

Três cervejas e já te escrevo...

“No entanto, saudade não é senão uma nova forma, polida pelas lágrimas, da palavra soledade, solidão” (Joaquim Nabuco)

Meu lado saudosista desperta depois de três cervejas. Abro minha bolsa, tiro meu caderninho e lá vou eu...

Saudade dos que se foram, dos que irão... Saudade das tardes de criança, que passaram e não voltarão... Saudade... Não bastava o termo no singular, maior ainda, o plural. Saudade acrescida de um S, que transforma o pouco que era muito, num muito sem final.

Saudade, saudades...

Li em um livro que esse sentimento é universal, mas que em todos os lugares do mundo para se descrever tal sentimento as pessoas precisam de mais uma, duas, até mesmo, três palavras. Temos saudade do “tido” e daquilo que pretendemos ter. Sentimos saudade de um cheiro, um sabor, um tempero, saudade de coisas que não vivemos, saudade de coisas que os outros viveram, sentimos saudade até dos nossos próprios sentimentos...
Saudade, saudades...

Essa palavra, como diz Damatta, “é mais do que uma mera palavra”. Ela é pura lembrança, ela é “a própria realidade da idéia que exprime”. Ela é “concepção de um tempo especial, tempo que deseja ser moderno mas sem abandonar sua qualidade humana e relacional”.
E o que é esse tempo que hoje temos associado à produção econômica e à quantidade de riqueza acumulada? Um tempo preciso, pontual, valioso... Tempo controlado pelo homem, pelos ponteiros de um relógio, em sua duração. Tempo que não pode ser desperdiçado com um passeio no bosque, com um piquenique no fim de semana, um tempo que não nos permite sentirmos nossos sentidos. Permite-nos ser um pacote de carne e osso que vive em função de um pedaço de papel, pois ali mora a felicidade.

Saudade... Sentimento atemporal... É como se fosse uma viagem no tempo. Você pode estar aqui e estar lá no passado.

Esse ponto que usamos no pulso, marca um tempo diferente do que a nossa mente marca. Esse relógio que nos diz quando sorrir, quando chorar, quando dizer que ama, quando dizer que sente saudade...

Eu, particularmente, gosto de sentir saudade... E acho que você também deve gostar... De lembrar de coisas que aconteceram que marcaram nossa memória... Gosto de lembrar da torta de maçã que comíamos quando viajávamos para Assunção. Gosto de sentir o cheirinho suave do doce de figo da vó Ana... Gosto de lembrar de quando morávamos em Ponta Grossa, acordávamos cedo e abríamos a janela da cozinha da casa da minha falecida vó, colhíamos os figos, e ela fazia o melhor doce que já tínhamos provado. Gosto de lembrar dos passeios até a beira do rio. Das roupas sujas de terra, dos tênis brancos que voltavam pretos... Gosto de lembrar das coisas que encontrávamos nas nossas expedições pelos lados do Porto Dourado... A mais bizarra que encontramos e levamos para casa foi a ossada da cabeça de um boi. Essa expedição, diga-se de passagem, nos rendeu algumas chineladas... Gosto de poder me enganar e sair desse mundo. Uma doce viagem pelo tempo, pelo tempo dos meus sentidos... Tempo esse que aprendeu a deixar todas as tristezas e as dores escondidas debaixo do tapete da memória. Não quero lembrar de todas as brigas, todas as coisas ruins que aconteceram na minha vida... Quero ter certeza que vivi, que sofri, mas que estou aqui hoje firme e forte...

*Citações do livro de Roberto da Matta “conta de mentiroso-sete ensaios sobre antropologia brasileira” editora Rocco

AS MUITAS FACES DE FOZ DO IGUAÇU (Por: Danilo Georges e Eliseu Pirocelli)

Magrão BZ, Arte Periférica Combativa.



Anderson da Chagas Bezerra, conhecido como Magrão Bz, tem 33 anos, nasceu em Santos e veio pra Foz do Iguaçu com 2 anos de idade. O pai trabalhava em construção civil e veio passando de cidade em cidade até chegar em Foz, com a esperança de trabalhar na usina de Itaipu. Morou na Vila A, seu pai trabalhava em uma empreiteira que prestava serviço pra Itaipu. Moraram por 10 anos na Vila A e depois foram morar no Jd. Belvedere. Quando se casou mudou para o Jd. Petrópolis e hoje vive no bairro Cidade Nova. Começou a ouvir Rap através de seu irmão que era Dj e tinha alguns vinil desse gênero musical. Os primeiros discos que ouviu foi Holocausto Urbano do Racionais Mc's, Pepeu (Rap nome de meninas) e Ndee Naldinho. Depois ouviu mais intensamente o álbum Sobrevivendo no Inferno do Racionais. “Eu também escutava muito som gringo, que influenciou bastante, Cypress Hill, Das Efex, não entendia as letras mas gostava dos instrumentais e do ritmo”.

Ele percebe a importância dos movimentos Punk e Hardcore na cidade que antecedeu o Movimento Hip-Hop. “A diferença é só o instrumental. O peso. O Hardcore também tem protesto no meio. Eu curti DFC e Detrito Federal de Brasília, falavam de política. A diferença é o peso na guitarra e bateria. A banda Tumulto de Foz, banda Punk, tinha um vinil bem loko e influenciou o rap e os sons de protesto de Foz. Antigamente, tinha um evento chamado Rock no Subúrbio e hoje a gente tem o Rap na Quebrada. Interessante a gente notar as influências”.

Magrão começou a cantar rap em 2000, junto com o Vinícius, Rafael, Ta ligado, Hugo, Titi, Marcelo, Caê. Cantaram no show do SNJ e Da Guedes que inaugurou a pista de Skate em Foz. Participou de alguns eventos de rap na “Lua”, um bar onde o DJ Caê discotecava na época e também na pista de Skate do Amarelo. Os ensaios rolavam na casa dos integrantes do grupo, no Cohapar, no Jd. São Paulo, na Vila Claudia. Também se reuniam na pista de skate onde sempre encontrava um pessoal fazendo um grafite, montavam equipamento, faziam um rap e um Freestyle. Magrão que já desenhava desde os 10 anos de idade, passou a desenvolver ali a arte do grafite, que pratica até hoje. Em sua caminhada já participou dos grupos Enquadro Verbal, Juventude Consciente, Aliados da Periferia, Vulgo PT, Arsenal Periférico e integrou o Coletivo de Hip-Hop Cartel do Rap. Hoje está com um trabalho solo, mais voltado pro Rap Gospel com o nome de Testemunho Verídico. “Gosto de falar de tudo, de tudo um pouco, né. Tipo, o que a gente vê a gente tem que ser o cronista da periferia, certo. Onde a gente sobrevive, aquilo que a gente vê que ta errado, a gente procura colocar nas letras. Tentar colocar de um modo que você ache uma solução praquilo. Porque você só falar, só ver o problema e não tentar achar uma solução pra ele...”. “Porque tem muita gente que ta escutando”. Ônibus lotado, moleques no farol, homem de muleta pedindo, gente carregando sacolas de lixo pesadas, enchentes, enquadros policial, tudo isso vai para as letras de suas musicas. “O rap veio pra levantar a auto-estima do pessoal que é discriminado. O pessoal de quebrada, o pessoal que vive na dificuldade, sabe. Isso é uma linha de frente da periferia que tem tudo pra ser positivo”.

Sempre atento aos caminhos que o Rap está seguindo, Magrão afirma não gostar do rap feito de maneira comercial, que segue mais a linha do rap norte americano, ele curte o som de enfrentamento e de pessoas que fazem primeiro por amor, depois pelo dinheiro. “Um cara que eu admiro pelo que aconteceu com ele e pelo que ele tem feito é o Cascão do Trilha Sonora do Gueto. É um cara que bate de frente, fala pra quem tem que falar, entendeu. O cara foi presidiário, ficou preso, saiu, hoje ta formado em advocacia, mas não é por isso que se elitizou. Continua sendo o Vida Loka que ele é”. “Você não pode levar o Rap de forma comercial. Tem que fazer ele pelo amor, se você for fazer o bagulho achando que vai ganhar dinheiro encima disso pode desistir”.

Magrão já trabalhou em construção civil, de servente de pedreiro, em mercado, no Paraguai carregando caixa e em dezenas de outras correrias. Questionado a respeito de o Rap falar bastante em suas músicas sobre o ladrão e não falar tanto do trabalhador, ele responde: “Pra se falar do trabalhador, primeiro tem que ter o emprego”.

Incentivo à cultura

“Em Foz falta incentivo pra cultura, em especial pra cultura Hip-Hop. Lá em Campo Mourão o SESC e a Secretaria de Cultura dão espaço pros manos fazer o movimento deles lá. Aqui em Foz do Iguaçu não se abre a porta”. “Se o Hip-Hop for respeitado como uma cultura, como uma cultura de rua, ser respeitado como um movimento cultural nacional, eu acho que isso vai gerar várias funções. O rap não é só você cantar, tem o lado do vestuário, tem o lado da divulgação, isso tudo gera trabalho. O movimento ia aumentar”.

Ausência do pai

“Geralmente, em muitas famílias de periferia o pai está ausente, né. Muitas vezes é a mãe que cria os filhos sozinha. Existem vários exemplos de mães que criam 03, 04 filhos sozinha, o pai abandona ou o pai é cachaceiro, vive nos botecos, não quer fazer a correria. A mulher sai pros corre, ela ta sempre buscando um apoio pros filhos. Eu como pai tento sempre dar o exemplo pros meus filhos, na medida do possível eu to sempre presente”.

Sonho:

“Poder divulgar um som, poder levar uma palavra que seja de refrigério pras pessoas, não quero elitizar nada, não quero fama, status nem nada, quero ser sempre o Mano Magrão, podendo levar o Rap pra vários lugares, várias quebradas, falando da palavra de Deus, pra mim aí já é o bastante. Poder divulgar no grafite. Futuramente, se Deus permitir aí eu fazer uma oficina de grafite, entendeu, essa aí é minha vontade pras crianças da periferia. Porque aqui nessa quebrada não tem nada, não tem um parque, não tem uma quadra, não tem um campo de futebol decente. As crianças é tudo ociosas mesmo, entendeu. Então se você tem algo pra colocar no lugar pras crianças poder desenvolverem alguma coisa, não só o grafite. Minha vontade é essa”.



“Esse daqui é mazela social, né, miséria. Isso daqui é comum se ver por aí, criança mesmo. Isso daqui representa o vazio, não só do estômago, mas do próprio corpo do ser humano por viver na miséria. Geralmente se vê por aí criança garimpando no lixo, e é o lixo geralmente da elite, né”.


“Esse daqui representa o Mc mandando a idéia. Nesse desenho eu coloco uma marca minha que é esse esfumaçamento aqui que significa como se fosse um vírus, o vírus da favela se proliferando por todos os lados”.


“Esse daqui são os elementos do Hip-Hop unidos fazendo o Movimento". "Na maioria dos meus desenhos está sempre presente os barracos da favela”.

APC 16 - Meus Inimigos estão no poder

Provocações (Luiz Fernando Veríssimo)

A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão. A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso. Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de medicamento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz. Foram provocando por toda a vida.
Não pôde ir à escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, ele gostava de roça. Mas aí lhe tiraram a roça. Na cidade, para onde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme, firme. Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Os que morriam eram substituídos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.

Estavam provocando. Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça. Ouvira falar de uma tal de reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa. Terra era o que não faltava. Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.

Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Pra valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação. Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano...
Então protestou. Na décima milésima provocação, reagiu.
E ouviu, espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:

Violência não!

O MUNDO QUE CRIAMOS (Por: Luiz Henrique Dias da Silva)

Tenho o costume de acordar cedo. Faço isso um pouco pelo trabalho, um pouco por hábito. Ao sair de casa, passo em uma padaria próxima para ler o jornal do dia e tomar um café com leite acompanhado de um pão com presunto, queijo e manteiga. O local é simpático e isso contribui muito para preparar o meu humor para um dia cansativo e, geralmente, cheio de trabalho e afazeres. Quando estou na padaria (ou em qualquer lugar), me preocupo bastante em observar as cenas que o acaso oferece à nossa vida. Numa dessas observações, algo me chamou atenção. Um momento, que, durante dias, morou em meus pensamentos por seu simbolismo e, também, por sua complexidade social.

Era pouco mais de oito da manhã. Estava eu sentado em uma pequena mesa localizada próxima ao balcão onde as pessoas, neste horário, costumam formar uma pequena fila para comprar pães. Eu lia um jornal de que trazia uma matéria sobre a modernidade e seus benefícios, falando sobre os avanços que o mundo atual trouxe para nossas vidas, como a comunicação instantânea (por exemplo) e pensando sobre o quanto o dia-a-dia nas nossas cidades é realmente “avançado”, no que diz respeito ao acesso irrestrito ao direito à cidade e às relações de convivência social. Foi nesta hora que resolvi, como num passe de mágica, prestar atenção nas pessoas que compravam pão.

A primeira a fazer o pedido era uma moça de aproximadamente quinze anos, que pediu sete pães. Demonstrava certa sobriedade e tímida alegria ao fazer o pedido. Depois dela, foi a vez de um senhor que, sem tirar os olhos das manchetes do jornal sobre o balcão, pediu doze pães e algumas bolachinhas de polvilho. Até aí, tudo parecia normal: uma padaria que vende pães para as pessoas tomarem café-da-manhã. O que poderia acontecer de incrível em um lugar desses para ser descrito neste espaço a você, nobre leitor? A terceira pessoa da fila era uma mulher jovem, aparentava uns vinte e cinco anos de idade e, pela minha análise, era uma profissional da saúde, devido a suas vestes brancas características. Ela percebeu que eu estava olhando (e a atendente também) para acompanhar os instantes que marcam o momento do pedido.

O mundo ficou em câmera lenta. Eu percebia um ar trêmulo. Um leve suor. A chave do carro que não parava em apenas uma das mãos, mas era jogada de uma para outra, como se quisesse jogar para o espaço a fora algo ruim que a atormentava. Vi nela um sorriso envergonhado por algum motivo que, em um piscar de olhos, se revelaria. Tentou, sem sucesso, dispersar nossos olhares, mas a funcionária da padaria precisava anotar o pedido e eu necessitava ver o mundo e como ele gira. Não podíamos, eu e a atendente, parar de olhar tudo aquilo. A fila do pão já estava maior, muitas pessoas chegavam com suas caras de sono e seu apetite matinal, enquanto nossa nobre personagem continuava a se preparar para o pedido. A velocidade da projeção da vida aumenta e uma frase reveladora é produzida: “um pão, por favor”. “Um pão?” – repetiu a atendente, com ares de dúvida e espanto – “a senhora quer apenas um pãozinho?”. “Sim” – disse a cliente, agora completamente desconfortável com os olhares que viam de todos os pontos da padaria e do universo. A atendente buscou o pedido, colocou em um saquinho de papel e entregou para a moça. Esta, quase em fuga espetacular, entregou o dinheiro no caixa e desapareceu na imensidão da manhã. O mundo continuou a girar e a fila da padaria continuou a andar. Fiquei somente eu ali, sentado, a pensar sobre aquilo tudo que vi.

Em nosso mundo a solidão passou a ser a regra, e não a exceção. Viver sua individualidade se tornou sinônimo de viver isolado. As pessoas, cada vez mais, moram sozinhas. Envelhecem sozinhas e consideram isso um fenômeno dentro da normalidade, natural, quando, na verdade, é um dos grandes males da nossa sociedade: o isolamento social. Homens e mulheres abrem mão de terem família, convívio conjugal e comunitário em nome de um individualismo exagerado, injustificável. Este isolamento se reflete também nos hábitos alimentares e de consumo, estimulando a má alimentação e a compulsão por comprar produtos inúteis. Reflete também nas relações humanas, reduzindo gradualmente a noção de comunidade e reforçando o “indivíduo” como um “todo” e não como uma parte deste, produzindo pessoas mais tímidas, infelizes e camufladas. Aquela moça certamente foi para casa comer seu pão e olhar para sua parede preferida, enquanto sua vida caminha, lentamente, para o desconhecido fim que todos teremos. Se depender desta sociedade que criamos e alimentamos seremos sempre infelizes. Sempre solitários. Sempre pediremos um pão e acharemos normal.

Talvez um dia pediremos um grande amor na padaria. Ou um filho no supermercado. Ou um cachorro na farmácia. Ou um pouquinho de amor próprio em uma boutique. Ou não pediremos nada, só pra não ter que conversar com alguém.

(Luiz Henrique Dias da Silva é escritor, estudante de arquitetura e urbanismo e comunista (convicto).


Acessem: www.acasadohomem.blogspot.com

Groundation - Chant

POESIAS E PENSAMENTOS

Sonho Tão Belo

Meu sonho é um sonho
Tão Belo!
Como um jardim
De rosas brancas e vermelhas
Nunca desabrocham
Que sempre estão vigorosos
Rígidos e inatingíveis
Como as estrelas lá do céu
Que brilham ao anoitecer
Luar este que inspira
As mais belas canções de amor
Eu sou escritor de rua
Eu sou o poeta popular
Esta é a minha virtude
Esta é a minha história
Está escrito em minha face
Em meu olhar, em meu proceder
Que desenvolvem um ser
Procuro compreender o sentido
Da existência de cada um
Esses versos são:
A definição
Da minha história
Que é uma história
De um vencedor;
Nesta hora
Agora

(Sandro Carvalho da Silva, Foz)

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Um sonho
Vamos sonhar um sonho...
Um sonho que se sonha junto
Vamos criar uns planos...

(Mysk, Foz).

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Sem poder


Que culpa tenho
Se não posso fazer o que queres
Um abraço dou
E boa sorte posso

Sem condições
Em capital
Em tecnologia
Em máquinas
E conforto

As mãos delicadas são
O pensamento é bruto
A escola é a própria vida
Luta
Lutos

Quadrilha formada
Capacitada
Auge da loucura
Sem explicações

Uma psicologia
Uma frase dou
Vem junto
“do exercito da paz sou !”

(Edson de Carvalho, Foz)

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Sonhou com olhos de anjo
Acordou com olhos de demônio
Cheio de desprezo
Resolveu matá-lo
Tocando outra canção

(Carol, Foz)


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Meta amor fases


É fases de amor, amor com meta, Metamorfose

Amor em Foz
Não há nada que eu não faça hoje
que não tenha amor
Amor pela cidade muitas faces de Foz

Amor pela dor, dor de todos,
como ser feliz dividindo a dor
Amor cura a dor?
Mas quem cura a dor do amor?

Nesse tempo de amar
Que me fez voltar pro interior do Paraná
Tenho muito amor para mudar
Para sonhar, pois quero revolucionar

Tenho amor para me posicionar
E gritar bem forte: “as coisas vão mudar”
Para mudar basta amar
Pois sem amor, não tem como transformar

Ora com tanto amor
Só sinto vontade de viajar
Para semear no mundo o dom de amar

(Danilo Georges, Foz)


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mortedeana
saotantasanas
emsuacama
saotantaschamas
quenaoaclama
saotantascamas
Enenhumaana
pelaqualreclama
seupeitoinflama
egrita
ana

elanaorespondemais

(Carol, Foz)


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Muito Obrigado


Muito obrigado
Pelo sangue no olho
Pela facada no peito
Pelo tapa na cara
Muito obrigado
Por seqüestrar meu sorriso
Meu brilho no olho
Meu tesão
Muito obrigado
Pelas noites sem sono
Pelas caminhadas madruga a fora
Sem rumo
Muito obrigado
Por trazer em mim a desconfiança
O olhar ressabiado
As pulgas atrás da orelha
Muito obrigado
Por me despertar o ódio
Por me trazer o rancor
Obrigado pela amargura
Quem sabe da aspereza
Renasça um novo homem

(Lizal, Foz)


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Silencio de morte...


Hoje meu violão é uma gadanha,
golpes pentatônicos no escuro.

Guitarra Ceifadora,
abandona o infernal refugio,
e vem cantar as marchas funerárias, sepulcrais,
em notas de sabre ferir o luar,
e violentar o céu sem piedade, mpunemente,
celebrando o amor sarcástico, cruel,
insano, patético, delicioso e sujo

Silencio de morte...
Hoje meu violão é uma gadanha.

(Negendre Arbo, Foz)

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A quem interessa manter o esquecimento?

No dia 15 de janeiro último, no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, no centro do Rio de Janeiro, foi realizado um ato em homenagem ao militante político, Carlos Marighella, além de outros brasileiros que morreram resistindo à ditadura civil-militar. O evento foi organizado pelos grupos Tortura Nunca Mais/RJ, Marighella Vive e Exposição Marighella. Cerca de 150 pessoas compareceram. O ato teve início com a exibição do filme "O Retrato Falado do Guerrilheiro" sobre a vida de Carlos Marighella, dirigido pelo cineasta Sylvio Tendler, seguido de debate. Quase ao final da primeira parte do evento o coordenador da mesa, Carlos Fayal, foi informado pela gerência do Centro Cultural de que através de um telefonema anônimo uma bomba teria sido colocada no prédio. Rapidamente homenagearam-se outros militantes mortos, sendo que a determinação dos responsáveis era deixar o edifício vazio o mais rápido possível.

Estávamos atônitos e perplexos e nos perguntávamos: de onde vêm essas ameaças de bombas? Quem tem medo dessas homenagens? Quem tem medo da verdade? A quem interessa manter o esquecimento?

O episódio, sem dúvida, foi uma tentativa de intimidar os movimentos que constantemente se manifestam contra as violações dos direitos humanos e tentam trazer para sociedade brasileira o que foi o terrorismo de Estado implantado em nosso país de 1964 a 1985.

Não podemos aceitar estes fatos em um país que se diz democrático e de direito. Não serão tais ameaças e intimidações fascistas que nos farão desistir da nossa luta pela verdade e pela justiça!

Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 2010
Pela Vida, Pela Paz! Tortura Nunca Mais!
Grupo Tortura Nunca Mais/RJ
Marighella Vive/RJ

Distrito Industrial de Foz do Iguaçu: O Morumbi já esqueceu (Por: Jackson Lima)


Fotos by 'bairronauta'

Quando a Prefeitura de Foz do Iguaçu anunciou a compra de uma extensa área para a materialização de um "Distrito Industrial" no bairro do Morumbi, as esperanças do povo da região foi lá em cima. Na sede da Associação dos Moradores do Morumbi III, em lojas e escolas do Morumbi II e até no Portal da Foz vi folhas de papel impressas e fotocopiadas exortando as pessoas que comparecessem para fazer este ou aquele curso no Senai,no Senac e em outros lugares particulares como o Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac) e Technos para que se preparassem para as oportunidades de emprego do Distrito Industrial de Foz do Iguaçu. Hoje vejo que o ânimo do povo minguou. Hoje, não se escuta falar mais de esperanças de morumbienses em qualquer emprego que possa sair do Distrito Industrial.

O emprego é essencial para viabilidade da vida em sociedade. Sem emprego, vidas se inviabilizam. Quando vejo, a população usando os microfones de TVs e rádios para cobrar asfalto, reclamar de mato alto e de buraco, eu penso: como é possível que ninguém cobre empregos. É isso que Foz do Iguaçu deve a seu povo. Na inauguração do Maxi Atacado, o prefeito Paulo Mac Donald anunciou que duas industrias se estabeleceriam no Distrito Industrial em 2010. Uma delas geraria 3.000 empregos! Se for verdade, é uma boa noticia. Porém, e se não for?

A foto mostra uma importante esquina do Distrito Industrial. Não quero dizer com ela, que toda a área esteja assim. Digo, e isso sim, que nesta esquina de quatro cantos, nos quatro cantos há lixo depositado e isso é triste. Pelo menos para mim é muito triste.
Na hora de aprender a trazer empresas e fábricas para Foz do Iguaçu, a cidade deve esquecer Nova York, Munique e Salzburgo. Deve aprender de Ampere, Santa Tereza do Oeste, Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, Capitão Leônidas Marques e outras cidades do oeste e Sudoeste de nosso Paraná.


(Fonte: www.blogdefoz.blogspot.com

O Tempo é Rei - Rajada Mc's

O Vento, a Chuva e Eu (Por: lizal)

Faz tempo que o vento ta querendo chamar minha atenção. Quando eu trabalhava no Paraguai e atravessava a Ponte da Amizade na madrugada, o vento frio sempre vinha beijar meu rosto. Uma vez levou meu boné do MST, que caiu lentamente, fazendo acrobacias, lá embaixo nas águas do Rio Paraná. Fiquei de cara, xinguei, excomunguei, gritei tudo que era palavrão. Depois desse dia, ele parece ter se afastado de mim, desistiu, me deixou de lado. Até meu ventilador estragou.

Recentemente, quando fui produzir um instrumental pra uma de minhas músicas, coloquei o barulho da chuva. Acho que o vento ficou com ciúme e voltou a me procurar. Pelas ruas do Cidade Nova passou a soprar forte em meu rosto, amenizando o calor de 40 e tantos graus de Foz do Iguaçu. O ventilador voltou a funcionar. O vento ficou assoviando e cantando na minha janela madrugada a fora.

Há pouco tempo atrás, durante um período de muita chuva em Foz, acho que o vento e a chuva se desentenderam. Eu estava gostando da melodia da chuva caindo sobre o telhado. O vento se irou e soprou forte. A chuva revidou e começou a trovejar, cair raios, e muita água. A briga se intensificou até que o vento forte levou a telha do meu barraco. Que zica!!! Bem no quarto onde fica o computador. A chuva não deixou de cair e quem levou o prejuízo fui eu.

O Inferno Somos Nós (Por: Sérgio Vaz)

No último dia 2 de abril, segunda-feira, uma bala perdida encontrou mais uma criança em seu caminho, e para a nossa tristeza, a pequena Jenifer, de apenas três anos de idade, não resistiu ao ferimento e faleceu na sexta-feira, em Itapecerica da Serra. Nesse mesmo dia, essas mesmas balas perdidas vitimaram outras duas crianças no estado de São Paulo. Que saudades das balas Juquinha...

Sabe quem está matando essas crianças? Somos nós, Os tais pagadores de impostos. A tal civilização do século vinte um. Nós, os seguidores de cristo, que as tratamos como pequenos demônios. A tal turma do bem que liga para um número 0800 do criança esperança e transfere a responsabilidade para um rede de televisão. Aliás, Deus vê tv? A sociedade como um todo aperta esse gatilho e tem o sangue delas nas mãos. O cheiro da pólvora infesta nossas narinas e nos comportamos como quem não tem nada a ver com isso. O nosso silêncio é co-autor desses crimes, e não importa a veracidade dos nossos álibis. Jenifer poderia ser bailarina, médica, engenheira, dentista ou simplesmente ter um futuro, mas por conta do nosso instinto homicida, ela é apenas um número de estatística... um triste número de estatística. Um número no atestado de óbito. Um número na placa do cemitério. E a não ser pela família, um número para ser esquecido.

Pelo que sei a mãe era catadora de papel, talvez por isso não houve nenhuma passeata pela paz, no parque do Ibirapuera. Parece clichê, mas não é, a carne do pobre é a mais barata do mercado.
Dizem que o homem é a imagem e semelhança de deus, se isso é mesmo verdade tenho até medo de pensar como é o inferno. O filósofo francês Jean Paul Sartre dizia que "o inferno são os outros", que nada, o inferno somos nós.
Ao diabo essa tal raça humana.

(Fonte: www.colecionadordepedras1.blogspot.com)

Guerra na Fronteira - Socialmente Incorreto

TEMPLO DO HIP-HOP

Hoje o Templo é a Rua (Por: Eliseu Pirocelli)


Wesley e Deley de Acari na antiga sede do Templo do Hip-Hop

Numa tarde de sábado de sol forte em Acari, RJ, militantes do movimento Hip-Hop carregavam as caixas de som e os equipamentos para o evento que aconteceria logo no final da tarde, a partir das 19:00hs. O evento intitulado “Tudo Isso na Rua” faz parte de uma série de atividades organizadas pelo Templo do Hip-Hop em Acari. A noite prometia muito som de preto com Rap, Reggae, Funk, Soul, a presença dos funkeiros Mc Pingo e Mano Teko do Movimento Funk é Cultura e APA Funk e dos Mcs DelírioBlack e Mano Zeu do Movimento Hip-Hop.

O Templo nasceu com o intuito de ser um espaço físico com a prioridade de produzir e difundir a cultura Hip-Hop na comunidade de Acari. Com o projeto Quinto Elemento passou a oferecer oficinas de Grafite, Break, Dj, Ritmo e Poesia. O projeto visa a integração cultural e artística com as mais variadas artes e culturas, sejam elas populares ou eruditas e conta com três campanhas permanentes: Prevenção de DST/AIDS, Direitos Humanos e da Mulher, Meio Ambiente. Na apresentação do projeto lemos: “Almejamos que o Templo do Hip-Hop seja um espaço de valorização e constante busca pela emancipação da juventude favelizada, para isso pretendemos a curto, médio e longo prazo ter em nossas instalações uma biblioteca, uma videoteca e um tele centro comunitário, uma pequena galeria de artes, um estúdio de produção musical, e uma produtora de eventos e serviços para que assim possamos gerar renda e tornar-mos auto-sustentável”.


Grafite nos muros de Acari

O idealizador do Templo foi Wesley, morador de Acari, conhecido no meio musical e artístico como DelírioBlack. Em 2003 ele realizava junto com Deley (poeta e animador cultural em Acari) um programa de Hip-Hop em uma rádio comunitária da favela. O programa ia ao ar de segunda a sexta e se chamava 5º Elemento. Quando essa rádio foi fechada os dois passaram a realizar palestras e oficinas da palavra nas escolas localizadas no entorno da comunidade. Com a falta de recursos o projeto ficou com as oficinas comprometidas e passaram a realizar somente palestras e mostras de Hip-Hop. Daí nasceu a necessidade de se criar o Templo.

Wesley é natural de Pirapora e passou boa parte da sua vida transitando entre Rio e Minas. É envolvido com o Hip-Hop desde criança, suas primeiras letras de Rap datam do ano de 92/94, mas só em 1997 começou a levar o movimento mais a sério. “Em 2002 foi o ano que tomei uma decisão na minha vida, depois de perder dois irmãos de sangue e centenas de irmãos da rua, hoje o Hip-Hop é a minha religião, ele que me fez ser quem eu sou, ele quem realmente fez minha cabeça, e eu sou eternamente grato a ele, embora tenha sido difícil me dedicar a um trabalho musical”. Atualmente, Wesley está cursando graduação em cinema e militando no Coletivo de Hip-Hop LUTARMADA, um coletivo que busca o Hip-Hop engajado com a luta social. Através do coletivo está se integrando com os movimentos sociais que estão na luta, como o MST, Rede de Comunidades Contra a Violência, organizações de direitos humanos e muitos outros.



Apresentação dos alunos das oficinas em Acari

O Templo sempre teve dificuldade de espaço e apoio, por falta de recursos, inúmeras vezes as oficinas ficaram paralisadas, mas continuaram com atividades aleatórias. Uma delas é o evento Tudo Isso na Rua. Nessa edição, além das apresentações musicais, teve uma exposição do artista plástico Eduardo Marinho, um arteiro que busca com seus desenhos conscientizar e sensibilizar o povo para uma tomada de consciência e libertação contra o sistema capitalista. Contou ainda com exibições de curtas metragens. Recentemente o Templo do Hip-Hop se instalou na Escola de Samba Favo de Acari onde realizou um projeto de cinema intitulado: “Mostra da Favela” que visa discutir e debater como a favela é mostrada no cinema nacional. “O Favo é uma escola de samba nova, um bebê, ainda não tem nem 10 anos mas, já ganhou todos os títulos que disputou, como é uma escola que ainda ta fora da mega-industria, ela é comunidade pura, e trabalha nos seus enredos temáticas significativas”, diz Wesley, que vê no Samba e no Funk a maior identidade cultural do povo favelado do Rio. “Lá no Favo tem um pequeno cinema, assim como a música, o cinema é comunicação pura, só que ele tem sido usado pela lógica do capital, precisamos fazer o nosso cinema, contar as nossas histórias do nosso ângulo, com o nosso ponto de vista, e mais, protagonizar a nossa história, isso é mais que formação, é democratização e informação circulando na horizontal, e a serviço do povo, pois só a comunicação liberta”, conta Wesley que atualmente trabalha como correspondente da Metrópolis, uma televisão alternativa da Holanda.


Oficina da Palavra

É da Holanda que veio a dupla de Djs “Pum Pum Punani Dj's” para participar do evento. A dupla holandesa Crista e Marth são conhecidas na comunidade pelos projetos sociais que desenvolveram em Acari, e aprenderam a arte da discotecagem através das oficinas de Hip-Hop ministradas pelo Dj Izaías no Templo do Hip-Hop. O gênero musical que elas escolheram foi o Reggae, bastante difundido na Holanda e que faz a cabeça da juventude.
Apesar do nome, Wesley diz que o Templo não tem nenhuma relação com o Rap Gospel ou com a igreja.
Ele não discrimina os irmãos, mas tem críticas às igrejas neo-pentecostais por sua passividade diante dos problemas sociais. O Templo já teve suas instalações na Associação de Moradores de Acari e no Favo, mas atualmente está sem nenhuma sede. “Quando o Templo era um espaço físico, tinha eu, o Deley, e mais uma galera do LUTARMADA, agora geral faz parte, desde o barraqueiro que empresta uma escada pra ligar a luz, da tiazinha que costura um tecido pra servir de tela, a menorzinha que cola na banca as altas da madruga pra participar das atividades e orar o santo rap nosso de cada dia”, conta Wesley.


Pum Pum Punani Dj's

O evento Tudo Isso na Rua teve a organização do Templo e o apoio dos coletivos de Hip-Hop LUTARMADA e Cartel do Rap. Foi em um clima de muita união entre as culturas diversificadas que a luz do sol deu lugar à luz da lua e as apresentações rolaram madrugada à fora. Pudemos observar os moradores na rua, alguns sentados do lado de fora de suas casas desfrutando do que a rua em movimento pode nos oferecer. Como disse o “missionário” Wesley:

“Hoje o Templo é a rua. Na verdade a rua sempre foi o templo dos loucos e do Hip-Hop”.

Templo do Hip-Hop









Templo do Hip-Hop - O Templo é a Rua









ENTREVISTA COM RENATO CINCO Sobre a Legalização das Drogas.



(Por: Eliseu Pirocelli e Danilo Georges). Continuação da edição 57

Danilo – Qual a relação do tráfico de drogas com o Neoliberalismo? Porque é importante pro sistema capitalista ter o tráfico de drogas?

Cinco – Eu acho que no ponto de vista do sistema internacional, eu acho que o tráfico de drogas ele cumpre várias funções. Eu não sei qual delas é a mais importante. Eu acho que o mais importante, mas certamente uma função importante é a permissão do que se chamaria acumulação primitiva do capital. Você tem em toda a cadeia das drogas é possível acumular mais do que num mercado regulamentado. Então quando o capitalista explora a produção de coca ele não ta pagando direitos trabalhistas, não ta pagando férias. Na verdade os plantadores eles são verdadeiros escravos. Quando a droga ta sendo comercializada, o comerciante não pega alvará, não paga imposto de circulação de mercadorias, em todos as etapas do processo se paga propina. Mas, eu acredito que a propina seja menos do que os impostos se não nós teríamos todos esses capitalistas todos lutando pela legalização também. Talvez um dos aspectos mais importantes dessa cadeia comercial seja o mercado financeiro, NE, porque são trilhões de dólares que são movimentados anualmente pelo tráfico de drogas internacional e isso evidentemente implica no envolvimento do mercado financeiro no tráfico internacional de drogas. Agora, talvez a principal função internacional do sistema de produção das drogas seja justamente favorecer ao poder, ao exercício do poder. Por exemplo, internacionalmente o tráfico de drogas é utilizado como argumento para você criminalizar países. Os Estados Unidos hoje ameaça o Evo Morales de tirar a Bolívia da lista dos países que colaboram com o combate ao tráfico. “O país traficante”, “o país que colabora com o tráfico”, “o governo, o movimento político que colabora com o tráfico”, são categorias que também aparecem, em menor escala, mas junto com as categorias de terroristas, de Estado terrorista e etc. Inclusive no caso da Colômbia, se nós fomos ver o discurso da direita que nega a negociação com as FARCS, o argumento que ela usa é que as FARCS é um movimento de traficantes e não um movimento ideológico mais, guerrilheiro. E aí se ignora toda a relação dos movimentos insurgentes e contra-insurgentes com a ilegalidade. Não é novidade nenhuma no mundo das revoluções e das contra-revoluções os grupos políticos se financiarem através do crime. No Brasil a guerrilha urbana cometeu seqüestros e fez assaltos a banco pra se financiar, assaltos a casas de pessoas... na Irlanda o IRA traficou drogas também, traficou cocaína pra financiar suas atividades. Daí você escolher um grupo pra dizer: “aquele grupo traficou drogas pra financiar suas atividades”, o primeiro que tinha que ser denunciado é o exército do Estados Unidos, NE, a CIA o Exército dos Estados Unidos que traficou drogas durante a guerra do Vietnã.

Agora internamente nas sociedades, o exercício do poder é favorecido pela ilegalidade das drogas justamente porque a própria dinâmica desse mercado faça com que milhões de pessoas em todo o mundo entre na esfera da punição. Uma boa parte das pessoas hoje no mundo que estão sofrendo algum tipo de sanção penal, sofre essas sanções penais ou por terem traficado ou por terem usado drogas. Até na Holanda que é considerado o país mais anti-proibicionista do mundo, mais liberal do mundo nesse sentido, mais de 10% da massa carcerária é composta de traficantes de drogas, então até ali existe essa questão. Nos Estados Unidos hoje você tem cerca de 0,9% da população branca presa e da população negra tem cerca de 6,9% da população negra presa hoje nos Estados Unidos. É um instrumento racista, a cadeia americana hoje é racista, você tem uma idéia, a África do Sul encarcerou 0,8% da população negra durante o Apartheid e a grande maioria das pessoas que estão presas nos Estados Unidos estão presos pela questão das drogas.

Danilo – Na campanha do Rio de Janeiro chegou a se debater com a candidatura do Gabeira uma certa questão de maconha. Como você viu a relação que o Gabeira tratou a questão da maconha e como que até a imprensa tratou isso?

Cinco – É, o Gabeira, as últimas declarações que ouvi dele desde a campanha eleitoral pra cá são todas dizendo que está arrependido de ter defendido a legalização da maconha, que perdeu anos da vida dele. O argumento dele é que não adianta legalizar ou não legalizar se não tiver uma reforma da polícia. Eu concordo que tem que ter a reforma da polícia, mas não legalizar as drogas é insuficiente para mudar a dinâmica de violência hoje da nossa cidade. E mesmo nos países que não são violentos como o Brasil, a proibição das drogas além de ser ineficaz pra proteger os usuários de drogas, ela também é justificativa pra repressão em massa com as prisões. Não tem genocídio nos Estados Unidos mas tem 2 milhões e meio de presos hoje lá. Não tem genocídio na Europa mas tem centenas de milhares de pessoas encarceradas por crimes de tráfico. Então o Gabeira, ele ta certo quando diz que tem que fazer a reforma da polícia, mas ta errado quando fala que tem que abrir mão dessa bandeira.

Danilo – A respeito da Marcha, alguma figura pública, algum ator, alguma figura política já participou da Marcha, já se mostrou favorável?

Cinco – Olha, o que eu me lembro aqui, o Marcelo Yuca já foi em alguns debates organizados pela gente. O nosso advogado aqui no Rio, é um grande advogado o Nilo Batista, ele já foi até governador do Estado por que ele era vice do Leonel Brizola, quando o Brizola foi candidato a presidente ele assumiu o governo do Estado. Na passeata teve a presença do Carlos Minc, o ministro do meio ambiente, ele participou e inclusive foi chamado a depor na comissão de segurança pública do congresso nacional pra explicar o porquê de estar presente na passeata. Ele foi interrogado pelo deputado federal Laerte Bessa que defende a volta da prisão pros usuários com o benefício da delação premiada, então o usuário que entregar o traficante deixa de ser preso, né. O governador atual já deu duas declarações nesse mandato defendendo a legalização das drogas, nunca falou nada a respeito da passeata, mas defendeu a legalização. Na academia que tem mais apoio, né, mas assim, não são figuras de conhecimento do público, os acadêmicos geralmente não são, né. A não ser quando viram presidente da república.

Eliseu – A gente ouve muito se falar que a maconha detona os neurônios do usuário. Quais os mitos que existem a respeito dos problemas de saúde que o uso da maconha acarreta?

Cinco – Olha, essa questão médica é a mais difícil pra mim porque eu sou sociólogo. Então é muito reproduzindo a opinião dos outros, né, difícil pra mim ter uma avaliação concreta. Existe um livro que eu li recentemente muito interessante chamado: “Maconha Cérebro e Saúde”. Até onde eu entendi do livro, eu até tenho que ler de novo, ele é uma linguagem popular mas é um pouco difícil da gente assimilar. Eu acho que o principal efeito negativo que esse livro aponta do uso de maconha é devido a ingestão de fumaça, porque a maconha ela é consumida principalmente pelo hábito de fumar. Então a combustão do cigarro de maconha provoca a produção de vários elementos cancerígenos. Alguns médicos inclusive, não nesse livro, mas eu já li e já vi alguns médicos afirmando que a maconha é mais cancerígena que o tabaco inclusive. A diferença é que é difícil você encontrar um maconheiro que fume 40 cigarros de maconha por dia, 60 cigarros de maconha, e o tabaco não é difícil, né. Muita gente fuma pelo menos 20 cigarros, o que é um absurdo pro maconheiro, é comum pro usuário de tabaco. Queimar neurônio não queima, isso eu posso te afirmar categoricamente. Inclusive a grande maioria dos conhecimentos sobre maconha estão ultrapassados. Em primeiro lugar os princípios ativos da maconha, especialmente o THC, eles são conhecidos só a partir da década de 60 e as legislações proibicionistas, os tratados médicos que justificaram a proibição são todos anteriores a eles. Então eles não sabiam nem do que se tratava quando estavam proibindo. Existe uma questão que é muito pouco conhecida que é o sistema endocanabinóide, que significa que todos os organismos vertebrados e invertebrados, eles possuem um sistema próprio de produção dos canabinóides. Os princípios ativos que existem na planta maconha são produzidos naturalmente pelo nosso organismo. Agora o sistema endocanabinóide, ele é conhecido só a partir dos anos 90. Então o efeito que a maconha produz no cérebro das pessoas, muito pelo contrário, ela não vai lá destruir os neurônios, os princípios ativos, o TCH, o CBD e etc. eles vão se conectar a terminações nervosas que já estão nos neurônios esperando os canabinóides. Só que estão esperando os canabinóides que são produzidos naturalmente. E a maconha, nesse livro Maconha Cérebro e Saúde, ela é indicada como neuroprotetor, indicada por tratamento inclusive de epilepsia, porque nos ataques epilépticos os neurônios são destruídos. Tinha coisa que eu confesso que eu escutava algumas histórias e achava que era mentira de maconheiro. Mas esse livro me surpreendeu em muita coisa, por exemplo com a capacidade da maconha de reduzir determinados tumores de câncer. Ela tem essa possibilidade de combater tumor, tem questões de analgésico, controle da pressão ocular das pessoas que tem glaucoma, também ajuda a abrir o apetite das pessoas que estão fazendo tratamento de quimioterapia, tanto pra AIDS como pra câncer. Agora, parece que pelo livro, que aquela piada de que “maconha produz muitos problemas de perda de memória e outras coisas, mas eu esqueci o resto”, é temporário, né. O livro ele indica que a abstinência de alguns dias de maconha faz a capacidade da memória se restabelecer. Eu achei muito interessante que nesse livro eles explicam o seguinte, que uma das funções do sistema endocanabinóide é justamente ajudar o cérebro a descartar as memórias desnecessárias. Então por isso que quando a pessoa está sobre o efeito da maconha ela tem dificuldade de por exemplo “Eu quero telefonar”, então o cara pega o caderninho de telefone e olha o número, quando ele vai ligar já esqueceu o número. Isso é comum de acontecer com a pessoa sobre o efeito da maconha, não com o usuário da maconha sem estar sobre o efeito. Porque o sistema canabinóide ele atua nessa função.

(Assista no blog do Cartel um vídeo com a entrevista, com a citação de alguns livros pra quem quer saber mais sobre a maconha).

Entrevista com Renato Cinco parte 2

óIA sÓ (Por: Lizal)

Comunidades do Orkut



Uma das paradas mais maneras do Orkut são as comunidades. Dando uma fuçadinha básica eu encontrei essa daqui: Movimento Mulheres Camponesas. Óia sÓ que firmeza a apresentação da comunidade:

"Somos mulheres camponesas: agricultoras, arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, bóias-frias, diaristas, parceiras, extrativistas, quebradeiras de côco, pescadoras artesanais, sem terra, assentadas... mulheres índias, negras, descendentes de europeus, representantes de todos os estados do nosso país. Lutar sempre foi nossa condição, desta forma, construímos nossos movimentos autônomos de mulheres. Em nossa trajetória, temos reafirmado a luta das mulheres pela igualdade de direitos e pelo fim de qualquer forma de violência praticada contra a mulher. Pertencemos à classe das trabalhadoras e trabalhadores, por isso, nos articulamos com o conjunto de entidades e movimentos da classe trabalhadora. Resistimos no campo às conseqüências econômicas, políticas, sociais e culturais do projeto neoliberal, que intensifica a exploração de trabalhadoras e trabalhadores, aumentando a violência e a discriminação contra as mulheres". Outra parada responsa é dar uma olhada nas comunidades relacionadas. No caso dessa óia só as que encontramos: Via Campesina, MST Movimento dos Sem Terra, Latifúndio: Pecado Agrário, 1° de Maio Dia do Trabalhador, Solidariedade Brasil/Venezuela, Reforma Agrária, Alerta Contra o Deserto Verde, Povo Unido e muitas outras. Vamos lá companheiros e companheiras participem.

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João Pedro Stédile:

“O Haiti não precisa de soldados, precisa de médicos, professores, agrônomos. Os militares estão lá há cinco anos e nada mudou. O que muda um país não é presença militar. O Haiti precisa é de ajuda humanitária e de um novo projeto de desenvolvimento. O azar do Haiti é que ele fica muito perto dos Estados Unidos”.

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Nilo Batista:

“As esquerdas acham que as violências policiais contra os inúteis da economia neoliberal, nada tem de político. Os desempregados, os inempregáveis, os irremediavelmente alijados, cujas estratégias de sobrevivência são criminalizadas implacavelmente, seriam eles os vilões da história que não acabou?atrás das trombetas higienistas do “Choque de Ordem” nesta a mcdonaldização da orla,, a repressão do comércio informal popular, dos cocos, picolés, das quitandeiras do Galo ou do Pavão, que serão substituídos até o grande evento turístico-olímpico por assépticos sanduíches transnacionais”.

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Futebol e violência

A tentativa de pacificar as torcidas continua. Em janeiro desse ano a Torcida Guerrilha Azul, do clube Atlético Monte Azul foi proibida de entrar com sua bandeira no estádio. A torcida, que á a maior do clube, foi fundada em 2002 e ajudou a impulsionar o time da quarta para a primeira divisão do campeonato paulista. Seu símbolo, desde a sua existência é o nosso querido Che Guevara. Nada mais sugestivo para uma torcida chamada Guerrilha Azul, ter em seu símbolo um revolucionário guerrilheiro argentino. O major Francisco Mango Neto tentou se justificar: “Não foi uma proibição, foi apenas uma orientação. Daqui a pouco alguma torcida pode aparecer com uma imagem do Bob Marley ou com uma folha de maconha na bandeira”. Todos nós sabemos que a polícia usa a fachada de combate às drogas para legitimar as atrocidades que vem cometendo em nossas comunidades. Muitas chacinas foram cometidas em supostos confronto com traficantes, se apoiando na lei do auto de resistência. E nessa “guerra” usam de todos os artifícios, ligando a imagem do Bob Marley à apologia ao uso de drogas e os bailes funks ao comércio de drogas. O Presidente do clube, Marcelo Cardoso, foi informado que o comando da Polícia Militar de Ribeirão Preto proibiu qualquer coisa que caracterize apologia à violência.
Violência é proibir a liberdade de expressão. Deixo aqui uma dica para as torcidas organizadas. Criem gritos de guerra com frases do tipo: “Estamos na Paz, mas não estamos Pacificados”, “Paz sem voz é medo” e daí por diante.

(Torcedores de todo o mundo uni-vos!!!).

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Boca de livro

Sérgio Vaz, poeta marginal da periferia paulistana montou uma boca de livro. É isso, mesmo, em uma das edições do Sarau da Cooperifa (cooperativa de poetas da periferia), choveu livros nas mãos das pessoas presentes. Foram distribuídos 600 livros pra rapaziada. No dia seguinte Vaz escreveu em seu blog: “Usamos a mesma tática do tráfico de drogas, damos os primeiros livros de graça, depois que a comunidade se viciar, cada um que dê um jeito de sustentar o seu vício - apesar que tem uma biblioteca no Zé Batidão para emergências. Não deve ser fácil cheirar um livro de 400 páginas. A Cooperifa é a boca de livro da quebrada”.

(Quando o livro for legalizado, certamente viveremos num mundo melhor).

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Gilberto Felisberto Vasconsellos:

“No capitalismo o voto á valor de troca e não valor de uso. O povo sabe disso. Sem pirão não há eleição”.

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Propaganda no Metrô:

UVA (Universidade Veiga de Almeida)
“Eu não vim pra UVA pra ser alguém,
Eu já sou, por isso estudo aqui”

(E quem não estuda ali, não é ninguém?)

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Música de Sílvia Telles:

“Quem quer todas as notas Re, Mi, Fa, Sol, La, Si, Do / Sempre fica sem nenhuma, fique numa nota só”.

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PEQUENOS CONTOS: (Danilo Georges)

Chegava em um morro no Rio de Janeiro, um grupo de jovens militantes que propunham um trabalho social naquele lugar.
Ao se apresentar ao líder comunitário um dos jovens disparou “boa tarde, sou Jonathan Marxista, leninista, trotskista”. O líder comunitário respondeu eu sou Zé Beto eletricista e sem mais ista.

Em um showmício eleitoral qualquer, um jovem começou a discursar sobre a Obra de Engels “A Sagrada Família”. O jovem não reparava que o público não conhecia aquela leitura, pois falava para um público popular.
Ao citar a sagrada família uma senhora que carregava uma criança no colo, cutuca uma moça ao lado e diz “viu, não falei que ele era crente”.

Certa vez um intelectual renomado de uma universidade federal que participava de um ato contra a violência do Estado em uma favela disse: “o povo daqui é muito alienado, nós temos que vir aqui dirigir as massas”. Um bêbado que ouvira aquela frase interviu: “eu também dirijo as massas”. O intelectual encucado disse desconfiado: “é mesmo”? Ele: “Sim. Trabalho de moto taxista em uma pizzaria dirigindo as massas”.

Carnaval e Comunicação (Por: Lizal)

Pra se trabalhar com comunicação popular no Brasil tem que ter muita força de vontade e criatividade, para escapar das garras da grande mídia e criar práticas alternativas de informação e enfrentamento. Nesse carnaval, enquanto a indústria cultural de massa investe pesado na mega-estrutura das mega-escolas de samba e a grande mídia põe os holofotes sobre seus artistas, os comunicadores populares do Rio propõem uma “folia” alternativa. Na sexta feira, dia 12 de fevereiro, eles se reúnem na Cinelândia com o Bloco “Fala Puto que eu te Escuto”, um bloco que reivindica o direito à folia e à comunicação. No flyer de divulgação do bloco nós lemos: “Ei! Psiu… chega de só ouvir e dar boa noite pro “casal 20 do plim – plim”. Fala Puto que Eu Te Escuto! Vem, vem, vem… é nessa sexta (12) às 20h na praça Cinelândia. Fale, cante e grite, mas não venha só! Traga seu tamborim, cuíca, corneta, caixa de fósforos, panela… Fala Puto que Eu Te Escuto, um bloco recém nascido com pimenta na boca! Formado por comunicadores populares que pulam, gritam, pintam e bordam o ano inteiro pelo direito à comunicação”.

Samba enredo do Bloco Fala Puto que eu te Escuto:

Deixa eu Falar

Rio, cidade maravilhosa
É a própria poesia
Paias, futebol, mulatas e folia
Só pra vender no exterior
Divisas para a mídia que falou

Mas não se lembram, lá no início
O gueto deu o grito
Que nunca se calou

Bis:
Mas essa força ta aqui
Tentando se expressar
Agora é pra valer
Deixa eu falar

Na favela
A gente sabe conviver (pra valer)
Na novela ou na revista
Só rola pra inglês ver
Vem aqui quero mostrar
Como mora o cidadão
Sem blindado, sem caveira
Chega aqui no meu portão

Logo ali tem nossa rádio
Jornal, blog, twitter e tudo mais
Pra mostrar a verdade
Que a grande TV não trás

Liberdade de imprensa
É a voz do cidadão
Liberdade de empresa
O que é isso meu irmão?
Liberdade de imprensa
É a nossa comunicação
Liberdade de empresa
Isso é globalização

Refrão:
Se você não percebeu
Abre o olho e vem mudar
Sem plim plim, sem conversinha
É bem aqui
Deixa eu falar

Internet e Política (Por: Antonio Ozaí)



Hitler, Franklin Roosevelt e Getúlio Vargas, souberam como poucos usar o rádio enquanto instrumento político. Quando surgiu a TV, John Kennedy logo percebeu sua utilidade política. Com a Internet não foi diferente. Pouco a pouco os políticos descobriram as vantagens da comunicação virtual: ampliou-se o número de sites político-partidários, blogs, twitter, etc.. Em períodos eleitorais, a Internet transforma-se em mais um campo de disputa. Eles não hesitam em invadir nossos computadores com propaganda eleitoral muitos devem ter perdido votos por isso.

. Por que a Internet faz sucesso na política? Se levarmos em conta a composição social dos usuários temos a resposta: seu público é formador de opinião. O usuário da internet constitui uma elite sócio-econômica – da classe média às grandes empresas, incluindo um setor intermediário com pouco capital econômico mas com certo acúmulo de capital cultural e poder de influência. Isso explica a sua importância política. Por outro lado, o espectro ideológico na Internet é amplo. A pluralidade de idéias e informações circulando livre e democraticamente, aliado às facilidades da tecnologia, é um fator positivo; mas também negativo: imagine a potencialidade para a difusão de idéias racistas, nazistas, etc.. De qualquer forma, não é por acaso que o uso da Internet sofre restrições em países com governos ditatoriais.

A Internet, advogam os entusiastas, tem potencial para a construção da cidadania e o fortalecimento da democracia. De fato, a rede possibilita condições favoráveis ao acompanhamento e controle dos governantes. Na Internet, acreditam os mais otimistas, somos todos cidadãos. Para os espíritos mais arrebatados, ela é sinônimo de liberdade e a máxima expressão da democracia. Deslumbrados com as facilidades e possibilidades da rede, os novos jacobinos esquecem que a virtualidade não elimina a realidade social e econômica injusta e desigual. Na verdade, gostemos ou não, a Internet reflete a estrutura de classes e grupos sociais materializada no capitalismo realmente existente. Somos parte da elite que incorporou o computador ao cotidiano. Muitas vezes, o hábito ofusca a visão e sensibilidade sobre a realidade sócio-econômica. Irmanados em nossas ilhas virtuais, muitos de nós olvidamos um dado simples: a exclusão digital espelha o apartheid social que mantém milhões de pessoas à margem. Enquanto nos irritamos com a lentidão da conexão, com o entulho que recebemos por e-mail, ou com as discussões sobre o sexo dos anjos, os excluídos reais e virtuais tem que matar um tigre a cada dia para terem o direito de viver.
Não obstante, reconhecemos as potencialidades da Internet enquanto meio de ativismo político. Os zapatistas foram pioneiros no uso dessa tecnologia – mas também os grupos fundamentalistas cristãos e a Milícia Norte-Americana nos EUA. Contudo, o exemplo zapatista comprova que a militância virtual é conseqüente na medida em que se vincule.

É necessário refletirmos sobre o militantismo virtual e até mesmo sobre o significado de escrever e publicar na rede. Não duvido das boas intenções, mas devemos atentar para o auto-engano da supervalorização do meio eletrônico enquanto instrumento de militância. Desvinculada da realidade, a militância virtual pode até alimentar o ego, apaziguar consciências e gerar a ilusão de que convertermos os convertidos. É preciso, porém, reconhecer os limites do ativismo virtual e evitar a ingenuidade dos que imaginam revolucionar a sociedade através de e-mails ou textos publicados na rede. Para esse tipo de ativismo a revolução está literalmente no ar...

antonio-ozai.blogspot.com

Jair Rodrigues - Disparada

NOVELA DA VIDA REAL

Mais um Cidadão José Cap. 47

O rapaz chegou com a garrafa de vinho e os copos que o Japão havia solicitado. O Japão encheu os copos e acenou para que eles se sentassem. Passou o copo para eles que tomaram como quem está com muita sede, em um gole só.

- Que enrascada vocês se meteram hein.

Pra sorte dos três, eles são conhecidos do Japão. Há um ano atrás organizaram um show de rap naquela quebrada e ficaram muito camarada da galera daquela favela, voltando outras vezes pra visitar os loko. No dia do show de rap rolou um freestyle, que é os versos improvisados na hora, no estilo dos repentistas e o mano Bira fez uma rima com o nome do Japão: “Um salvão de coração, pra esse mano bem lokão / Sem palavra aí tiozão, salve Japão”. Ele se encantou com a jogada de rima e desceu várias brejas pros malucos do Hip-Hop que estavam se apresentando no evento. Depois ficou firmado de ele patrocinar com um qualquer o CD dos malucos, quando eles estiverem gravando. Mas com o tempo eles se afastaram um pouco da quebrada por causa do clima de guerra que a favela estava respirando.

-Pois é tio. Polícia é foda. A gente tava no ato lá contra a violência de Estado e batemos de frente com eles. Mas os cana são vingativos, não agüentam no debate e partem pra violência memo.


- Então, tive que desenborçar 7 pica-pau. Os cara tava na febre de matar vocês. É uma grana hein. Vocês vão ficar me devendo esse troco.

- Então, a gente ta quebradeira, mas vamos fazer o corre, vê se conseguimos emprestar com alguém e tal.

- Eu tenho uma proposta pra vocês.

- Qual a cena tio?

- Se vocês agilizarem um lado pra mim, morre essa grana aí.

Os três se olharam e ficaram tentando imaginar o que ele queria que eles fizessem. Estava com um sorriso malicioso, como se tivesse com algum plano maléfico em mente. E onde eles conseguiriam 7 mil e quinhentos reais pra pagar a dívida, dinheiro não dá em árvore e os três estavam passando por dificuldades financeiras. A cidade de Foz do Iguaçu não está fácil pra ninguém que queira trabalhar decentemente. Centenas de pessoas estão indo embora da cidade em busca de seus sonhos, ou para estudar em uma universidade ou em busca de um emprego pra sua sobrevivência. A própria formação da cidade contribuiu para isso. Milhares de pessoas vieram pra Foz no final da década de 70 com a esperança de trabalhar na usina de Itaipu. Muitos dos que não conseguiram emprego na Itaipu foram morar nas favelas que hoje são dezenas. As ocupações eram totalmente desestruturadas, sem água encanada, energia elétrica, calçamento ou asfalto, sem nada, e muitas continuam ainda sem infra-estrutura até hoje. Passado o ciclo da construção da usina veio o ciclo do turismo de compra e muita gente passou a trabalhar no Paraguai, do outro lado da fronteira. Uma parte da população iguaçuense tirou dali seu ganha pão por muito tempo, seja trabalhando de laranja, passando mercadoria ou trabalhando nas lojas. Mas o governo brasileiro e paraguaio taxou os trabalhadores de contrabandistas e assegurando os interesses dos empresários capitalistas começaram a criar dificuldades, para travar o comércio informal dos produtos oriundos da China. As grandes empresas do Paraguai e do Brasil estavam perdendo muito dinheiro, pois a galera comprava produtos no Paraguai 3, 4 vezes mais baratos do que seus preços. O arrocho e a perseguição aos ditos muambeiros culminou na queda de 70% do movimento nas lojas do Paraguai, o que resultou em demissão em massa dos iguaçuenses que trabalhavam ali.


(Lizal. Na próxima edição mais um capítulo)

MAGIA DOS PERSONAGENS TRANSFORMA MOCHILAS E CADERNOS EM OBJETOS DE DESEJO

Por Raquel Júnia


Vitrine de loja de departamentos no Rio de Janeiro. Ônibus escolar usado na América do Norte faz parte da decoração. E como anda a educação no Brasil? Foto: Raquel Júnia.

Mochila das Princesas, borracha do Ben10, caderno do Homem Aranha. Se você já ouviu falar nestes personagens, é porque está por dentro dos desenhos animados que fazem parte do imaginário das crianças. E já que as férias terminaram, é o momento deles aparecerem não apenas na televisão, mas também nos materiais escolares. No Rio de Janeiro e em boa parte do país as férias já terminaram, e com o novo ano letivo, chega também a necessidade de material escolar para ser usado no cotidiano das escolas. No caso de muitos estudantes, é o momento de insistir para ganhar aquela mochila com o personagem preferido ou aquelas canetas que além de escrever, também soltam perfume.

As papelarias estão lotadas, muitas crianças acompanham os pais na maratona salgada da compra do material escolar no sol de 40º graus do verão carioca. As vitrines estão enfeitadas. “Tudo para você se divertir na volta às aulas”, convida uma grande loja de departamentos. O problema é que muitas famílias não têm verba suficiente para agradar os pequenos. E o material escolar que deveria ser oferecido gratuitamente aos estudantes da rede pública de ensino não é, pelo menos não de maneira suficiente. O resultado já é conhecido: crianças frustradas por não comprar o que é visto na propaganda e diferenças sociais acentuadas na escola, até mesmo nas públicas.

“A criança gosta de ter material novo, de mostrar para os colegas. Isso extrapola quando você começa a comprar junto com o material escolar objetos que não são necessários. Por exemplo, hidrocor é legal para cobrir um desenho, para treinar o controle motor, mas para que tantas cores? É para acentuar a diferença social?”, questiona a psicóloga Noeli Godoy, do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.

Noeli, que estuda a relação da mídia com o consumo, também lida com a questão em casa, já que é mãe de quatro filhos e três estão na escola.

“Os fabricantes de caderno, borracha, lápis vão querer incrementar esse material. A Faber Castell lança, por exemplo, o lápis de cor das Princesas, as meninas vão ficar doidas, porque aquelas princesas viraram referência na infância. É aí que a publicidade consegue garantir a venda e se intensifica o capitalismo e a diferença social”, explica.

Quando papai e mamãe não têm super poderes

Tatiana Lima tem 31 anos e é mãe de cinco filhos em idade escolar. Ela também é estudante e em 2010 pretende concluir o Ensino Fundamental pelo ProJovem (Programa do governo federal orientado para a reinserção do jovem na escola). Moradora do Morro do Estado, em Niterói, região metropolitana do Rio, ela precisa se virar com o salário mínimo que ganha como zeladora de um prédio para sustentar as crianças. Tatiana vive com os pais, o irmão e os cinco filhos em uma casa de dois quartos. Ela reclama que no início do período letivo de 2009, a escola municipal onde estão matriculados dois de seus filhos enviou uma carta dizendo que a prefeitura garantiria material escolar e uniforme, mas que o tempo passou e só duas camisetas foram entregues às crianças, nada de lápis, borracha e caderno, objetos básicos.


Assalariada, Tatiana se junta com outras mães e compra materiais escolares no atacado. Foto: Raquel Júnia.

Para conseguir comprar o material dos cinco filhos, ela encontrou uma saída. Junto com a prima, a irmã e a tia que também tem crianças em idade escolar, faz as compras em papelarias que vendem no atacado. Segundo Tatiana, comprando o pacote fechado de cadernos ou a caixa fechada de lápis, sai bem mais em conta. “Assim eu gastei cerca de 180 reais no ano passado”, assegura.

De fora do orçamento de Tatiana ficaram os objetos escolares com personagens, já que encarecem os materiais. Ela conta que em 2009, uma de suas filhas ganhou do pai uma mochila da Penélope Charmosa – outra personagem conhecida do mundo dos desenhos animados. Segundo a mãe, a mochila foi cara e mesmo assim rapidamente começou a descosturar, o que para ela prova que nem sempre o preço é sinônimo de qualidade.

“Já que os pais não tiveram muita coisa quando eram criança, para compensar e para agradar os filhos, compram tudo que eles pedem. Aqui em casa eu explico: é esse que eu posso dar. Por exemplo, uma barbie custa mais de 200 reais, aí falo com eles: se eu dou para vocês agora e depois não posso dar mais, vocês vão roubar para comprar?”, reflete.

Mesmo sem saber, Tatiana segue um conselho bastante enfatizado pela psicóloga Noeli Godoy. Faz parte da tática dela não levar as crianças na compra do material escolar. “Se eu levar, elas dão muito prejuízo”, diz.

“Se você pegar dois orçamentos de material escolar – uma lista de material simples chega a 80 reais, se você caprichar muito, colocar apontador que faz mágica e borracha colorida, chega aos 200. E às vezes o apontador mágico não é tão bom quanto aquele velho apontador de ferro. Os pais esquecem de ver a qualidade do produto para poder satisfazer um desejo desnecessário”, comenta Noeli.

Tatiana lembra que há ainda outro problema com as listas de material escolar, para ela, há pedidos desnecessários. Ela cita como exemplo marcadores de texto exigidos na lista de um de seus filhos. “Quem os usou fui eu”, diz.

Apesar disso, Tatiana acredita que os pais devem comprar os materiais escolares, mas que o estado deveria ajudar. Atento à entrevista, Ryan, filho dela, fala que não gosta de ir para a escola. “O pátio é pequeno e não temos como brincar”, reclama. A mãe faz coro com o filho e critica também a má utilização da estrutura da escola. “Lá tem sala de informática, mas nunca é utilizada”.

Para Sindicato, estado é responsável pelo material escolar

O Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação do Rio de Janeiro (Sepe) sustenta que os governos têm o dever de fornecer o material escolar. O professor de história da rede pública do Rio de Janeiro e coordenador geral do Sepe, Sergio Paulo Filho, afirma que é ilegal as escolas cobrarem dos pais a compra dos objetos.

“O Sepe inclusive pede para ser acionado quando há cobrança de material escolar em escola pública”, informa. Sergio afirma que o kit fornecido pelos governos municipal e estadual é bastante incompleto, geralmente composto por caderno, caneta, lápis e a camiseta do uniforme. O professor concorda que a desigualdade social se acentua em sala de aula, já que alguns estudantes podem comprar os objetos e outros não. Para ele, o poder público é o responsável por promover a isonomia, ou seja, evitar que essas diferenças sejam tão gritantes no ambiente escolar.

A psicóloga Noeli Godoy sustenta que só o oferecimento do material escolar pelo estado não resolverá as diferenças sociais na escola, mas pode amenizar o problema. Para ela, é bom para a educação que o estado cumpra suas atribuições, mas a disputa pode continuar.

“A questão do consumo não está na distribuição do material escolar, está na relação dos pais com a mídia, da publicidade com os pais. O estojo que o estado irá oferecer, por exemplo, não tem personagem, não tem nenhum chamamento de status, então eu vou ficar com aquele que o estado me deu ou vou comprar o do Batman? Cada criança vai sentir contemplada, mas a disputa da diferença de poder continua”, aponta.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o subsecretário executivo de Estado da Educação do Rio de Janeiro, Julio Cesar da Hora, informou que a “Secretaria de Estado de Educação não fornece material escolar para as escolas da rede”, apenas as camisetas do uniforme. Ele ressaltou que os livros são fornecidos pelo governo federal.

O Sepe acredita que o estado e o município deveriam investir em educação os 35% previstos no texto original da Constituição Estadual e da Lei Orgânica do Município. Uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) movida pelos governos derrubou a norma em 2003.

Questionado sobre os recursos destinados pelo governo estadual à educação, o subsecretário Julio da Hora respondeu que no ano passado o governo investiu mais do que os 25% determinado pela Constituição Federal. “Em 2009, foram destinados 25,12% dos recursos para a Educação em geral, incluindo universidades, escolas profissionalizantes, etc.”, argumentou.

Para o Sepe, os governos tendem a caracterizar a educação como gasto e não como investimento. “Do nosso ponto de vista é um crime os governos não investirem os 35%, porque fazem falta estes 10%. Poderiam também estar engrandecendo o material didático. É um crime monstruoso com o futuro da sociedade do Rio de Janeiro”, reforça Sergio Filho.

Procuradas pelo Brasil de Fato, as secretarias municipais de educação do município do Rio de Janeiro e de Niterói, onde estudam os filhos de Tatiana Lima – entrevistada na reportagem, não responderam até o fechamento desta edição.

(*) Reportagem publicada originalmente pelo o Jornal Brasil de Fato

Fonte: www.fazendomedia.com